Moda é Arte?

Fonte: https://vogue.globo.com/lifestyle/noticia/2016/10/rei-kawakubocomme-des-garcons-met-museum-revela-tema-da-expo-de-2017.html

Pesquisar sobre a relação e/ou convergência entre arte e moda traz alguns desafios, principalmente porque existe um debate considerado interminável sobre se a moda deveria realmente receber o status de arte, ou se a moda é arte. Em um artigo intitulado “Is fashion an art?” publicado pelo The Metropolitan Museum of Art Bulletin (NORELL et al, 1967, p.130), Norman Norell (1900-1972), um renomado designer de moda norte-americano, hesitou, mas em seguida disse que sim, quando questionado se moda era arte. Segundo ele “o melhor da moda merece o nome de arte.”

Para a escultora Louise Nevelson (1899- 1988) moda não é arte, mas poderia ser. Ela acredita que, para se qualificar como uma arte, a moda deveria ser uma expressão do usuário e deveria estar relacionada ao seu ambiente (NORELL et al, 1967, p.133). O famoso designer de moda André Courrèges também foi indagado por essa pergunta e respondeu: “Eu certamente não afirmaria que a moda não é arte, mas isso é algo para os outros julgarem. A profissão de designer de moda para mim é simplesmente um trabalho como o de qualquer artesão que tenta introduzir gosto e proporção no objeto que está criando” (NORELL et al, 1967, p.138).

A historiadora, curadora e diretora do FIT (Fashion Institute of Technology) Valerie Steele quando indagada sobre o assunto afirmou que sempre que se pergunta se a moda é ou não arte, percebe que algumas pessoas ficam irritadas e que estas a questionam com perguntas como por exemplo, “como você pode questionar se a moda é arte?” Mas, Steele é enfática ao afirmar que ela precisa se perguntar, porque designers tão variados quanto Karl Lagerfeld e Miuccia Prada negam que o que eles fazem é arte. Entretanto, ela acredita que a moda é uma categoria que está em processo de ser reavaliada como arte, mas esse processo ainda é muito contestado (STEELE, 2011). 

Inquestionavelmente, a moda sempre teve um papel muito importante na arte figurativa, e alguns críticos reconhecem, de longa data, a moda como uma forma de arte. Entretanto o questionamento: “Moda é arte?” pode parecer estranho e sem sentido, pois afinal de contas, na contemporaneidade, “O que é arte?”

Depois das caixas de Brillo Box de Warhol, na década de 1960, tem se tornado cada vez mais difícil definir a arte. O mundo da arte contemporânea tem proposto que um objeto banal pode ser arte, apesar, de obviamente, nem tudo ser arte. Tornou-se muito difícil para os sujeitos não iniciados a reconhecer o que é arte e o que não é.

Foi a partir da segunda metade do século XX que os lugares da arte, do design e da moda apresentaram fronteiras menos definidas. A moda se tornou um assunto reconhecível dentro do mundo artístico contemporâneo como resultado de concepções ampliadas dos campos da moda e da arte. Segundo Sung Bok Kim (1998), o conceito de arte se expandiu tão radicalmente no século XX que é difícil pensar em algum objeto ou evento que não possa ser incorporado nele; tornou-se impossível traçar uma linha entre arte e não arte.

Danto (2006) compreende essa expansão do conceito da arte como o fim da história da arte, a partir desse momento (década de 1960), a arte é plural de forma que nada é excluído. Goodman observa que os impressionistas, expressionistas, cubistas e até mesmo a abstração geométrica podem ser analisados por meio dos critérios da tradição, entretanto, isso não acontece com a arte contemporânea. Tal como acontece com a física quântica, a arte contemporânea exige categorias novas para a sua compreensão (GOODMAN, 1995). Dessa forma a pergunta: “Moda é arte?” não se sustenta mais e que o único questionamento possível, seja: “Quando moda é arte?”

Dessa forma, se torna necessário uma análise específica de obras de designers de moda para se ter a certeza “do quando” tal produção pode funcionar como arte. Provavelmente, nunca poderemos dizer que toda moda pode funcionar como arte. Apenas um campo de produção restrita, relacionado à alta moda e/ou moda de vanguarda, é provável que seja considerado arte.  Um grande exemplo disso é a designer de moda de vanguarda Rei Kawakubo que teve uma grande influência na atitude de moda no mundo da arte. Desde o advento da alta moda, a moda levou mais de um século para se estabelecer no museu, mas, agora, a tendência de excluir a moda do reino da arte foi, consideravelmente, enfraquecida. Com silhuetas radicais e detalhes assimétricos, Kawakubo explorou vários vocabulários como uma ferramenta conceitual para lidar com questões de corpo, sexualidade, gênero e identidade, ao mesmo tempo em que lidava com a moda como um espaço escultural (YIM, 2013).

Texto: Camila Carmona Dias

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